Engasgando com o camelo

A evidência histórica para Jesus

Prefácio

Por quase doismil anos, os cristãos tem reverenciado Jesus Cristo como seu senhor e salvador.As histórias do evangelho que falam de sua vida são familiares, ao menos emlinhas gerais, para quase todo mundo, crentes e não-crentes. De acordo comesses registros, Jesus nasceu de uma virgem chamada Maria na cidade de Belém,descendente da linhagem do Rei Davi. Ao chegar à idade adulta, eles dizem, eleestabeleceu um ministério, ensinou as pessoas a amarem umas as outras, curou osenfermos e os aleijados, realizou milagres, e atraiu multidões distantes paraouvi-lo pregar. Mas, os evangelhos prosseguem, ele ofendeu os senhorescorruptos e mundanos do templo judeu de Jerusalém, e então eles conspirarampara prendê-lo sob acusações forçadas e o executaram por crucificação. Noentanto, concluem os registros, ele levantou-se do túmulo em triunfo noterceiro dia após sua morte e ascendeu ao Céu, provando seu status divino. Aigreja que ele fundou, agora difundida e imensamente poderosa, sobrevive atéhoje; tem bilhões de seguidores e denominações por todo o globo. Diga o quequiser sobre Jesus e seus ensinamentos – para melhor ou para pior, seu efeitosobre o mundo tem sido tremendo.

Mas será que elesequer existiu?

É certamente umapergunta surpreendente; tão surpreendente, de fato, que por dois milênios quaseninguém sequer pensou em fazê-la. O Cristianismo dominou o mundo por muitodesse tempo, e a existência histórica de seu salvador foi tomada como um fatoque ninguém se atreveu a contestar.

No entanto, essepressuposto agora está sendo desafiado. No século 20, o poder absoluto dareligião sobre a sociedade finalmente começou a declinar, e o resultado temsido como a Renascença nos círculos acadêmicos, com análise textual críticaexercendo sua força sobre a Bíblia pela primeira vez. Esta abordagem já nostrouxe uma riqueza de entendimento sobre as origens da Bíblia, especialmente oVelho Testamento (ver "Let the Stones Speak").Até hoje, no entanto, as origens do Novo Testamento não têm sido minuciosamenteexploradas. Enquanto que a opção prevalecente dos estudiosos é a de que Jesusrealmente existiu, essa opinião é baseada mais em hipótese e tradição do que emum levantamento minucioso das evidências.

Em anosrecentes, no entanto, tem havido uma facção pequena porém crescente de vozesdesafiando também esta sabedoria convencional. Estes estudiosos apontam, entreoutras coisas, que a evidência histórica para a existência de Jesus éextremamente fraca se não inexistente; que a história de sua vida correspondeao mesmo arquétipo de herói mítico que aparece em muitas culturas através dahistória; e que muitos livros e versos do Novo Testamento nos contam coisasincríveis e estranhas se não as vemos através de um véu de pré-concepções.

Não sou umhistoriador profissional, mas me considero um desses céticos. É minha opiniãoconsiderada que, enquanto pessoa histórica, Jesus Cristo provavelmente nuncaexistiu. Eu argumento, em vez disso, que o Cristianismo começou como umareligião mística, uma ramificação do judaísmo messiânico adorador de umadivindade salvadora cuja morte sacrificial e ressurreição acreditavam teracontecido no Céu. Argumento ainda que, ao longo do tempo, esta estrutura decrença foi misturada com parábolas e ensinamentos éticos de antigos filósofoshelenistas, e que esta fusão de sistemas de crença gradualmente transformou-seem uma nova religião que viria a crer em um ser humano recente que incorporoutodos estes conceitos.

Apologistascristãos confiantemente assumem que tais visões são mantidas apenas por umaminúscula minoria de ateus, e que as evidências estão esmagadoramente contraeles. Mesmo assim, em anos recentes, eles lançaram uma barragem decontra-ataques, tais como o livro The Case for Christ, de Lee Strobel.Por que dedicar tanto esforço em refutar estas afirmações, ao menos que elessintam que estes argumentos são dignos de se perceber e responder? Poderia serque estejam preocupados que haja alguma substância neles afinal?

No fim, noentanto, o que importa é a evidência, e estou certo de que a evidência está donosso lado. Este ensaio irá portanto agora virar-se para a tarefa de examinaressas evidências. A parte 1 irá examinar os fatos de apoio a um Jesushistórico, ou mais especificamente a falta deles, detalhando como os registrosexistentes falham em atingir o padrão de prova para uma figura histórica. AParte 2 oferecerá uma refutação aos argumentos comumente dados por apologistascristãos contra as teorias do Jesus mítico. A Parte 3 irá especular sobre comoo Cristianismo pode ter surgido se não como uma resposta a um homem histórico,analisando versos bíblicos que nos ajudam a traçar a evolução da incipiente fécristã, e irá amarrar pontas soltas tais como o propósito original dosevangelhos.

 (Nota: Muito domaterial neste artigo vem do excelente website de Earl Doherty, The Jesus Puzzle, eseu livro homônimo. Recomendo fortemente este livro para todos os interessados,e enquanto isso, tomei a liberdade de apresentar uma versão destilada dosargumentos de Doherty, com adições minhas, com a intenção de aumentar o nívelde sensibilização deste debate.)

Parte 1: A Conspiracão do Silêncio

Parte 2: Os Argumentos dosApologistas

Parte 3: A Religião da Palavra